Hitpa‘alut Elokut התפעלות אלוקות (entusiasmo/excitação divina)



A partir do Capítulo 7 de Kuntres haHitpa'alut do Rabbi Dov Baer Schneuri

 






Eis que abro minhas palavras esclarecendo a diferença geral entre os ensinamentos de Chassidut (חסידות – piedade mística) antigos e os ensinamentos de Chassidut que meu pai, mestre, professor e rabino, de abençoada memória, cuja alma repousa no Éden, nos transmitiu e iluminou com a luz de sua Torá.

Pois todo o objetivo central de sua obra sagrada, como ouvi muitas vezes de sua boca santa, era que todo o propósito e esforço, com entrega de sua vida pelos nossos Anash (אנ״ש – homens de nossa comunidade), fosse apenas que se fixasse em suas almas a revelação da Elokut (אלקות – Divindade).
Ou seja, que a hitpa’alut (התפעלות – excitação) de suas almas fosse apenas uma hitpa’alut Elokit (excitação divina) e não uma hitpa’alut de vida carnal, que não é excitação divina de forma alguma.

Esse é o resumo e conteúdo essencial da intenção: a diferença entre aqueles que servem a HaShem-יהו״ה com sua neshamá (נשמה – alma) e aqueles que O servem com seu corpo. Dentro dessa regra geral, encontram-se muitos detalhes e variações.

De início, é preciso explicar bem a raiz desse princípio, ainda que seja conhecido por todos, pois não é plenamente compreendido.

A questão pode ser entendida ao introduzir o versículo: “Ve’atem hadevekim baHaShem Elokeichem chayim kulchem hayom” (ואתם הדבקים בה׳ אלקיכם חיים כולכם היום – “E vós que estais apegados a HaShem vosso Deus, todos estais vivos hoje”), do qual se entende que sem deveikut (דביקות – adesão a Deus) não são chamados vivos, mas mortos.
E está escrito: “Le’ahava et HaShem ki Hu chayecha” (לאהבה את ה׳ כי הוא חייך – “Amarás a HaShem, pois Ele é a tua vida”).

E não se pode explicar que “porque Ele é a tua vida” se refere ao mandamento de amar a HaShem, como se esse amor fosse em si a vida, pois, nesse caso, o versículo deveria dizer “porque ela é a tua vida”. Mas disse “Ele é a tua vida”, pois o simples sentido do versículo é claro: “porque Ele é a tua vida” é a razão do amor — amarás a HaShem porque Ele é tua vida.

Se assim, pode-se perguntar: por que é necessário chegar à hitpa’alut de amor, se Ele já é, literalmente, a tua vida?

Mas é sabido que há diferença entre o conceito de ahavá (אהבה – amor) e o conceito de deveikut.
A diferença geral é a seguinte: deveikut é a vitalidade e ligação da alma com o Chay HaChayim (חי החיים – Vida das Vidas), a essência da Or Ein Sof (אור אין סוף – Luz Infinita), bendito seja, chamada “fonte da vida de todas as almas”. E este é o sentido de “ki Hu chayecha” – porque Ele é tua vida, literalmente.

Por isso, sobre deveikut está escrito: “Ve’atem hadevekim” – “vós que adereis”. O sentido é que, por raiz de suas almas, já estão ligados de modo essencial e constante, não em forma de hitpa’alut ocasional. Como disse Rashbi: “Bechad ketira itkatarna, beih achida” (בחד קטירא אתקטרנא ביה אחידא – “com um laço único estou ligado e unido a Ele”) — como se explicará adiante na quinta dimensão da nefesh Elokit (נפש אלוקית – alma divina), no nível da Yechidá (יחידה).

E isso existe em toda alma de Israel, mesmo naqueles cuja raiz é apenas no nível de Nefesh de-Asiyah (נפש דעשיה – nefesh do mundo de Assiyah).
É por isso que se diz especificamente Shema Yisrael (שמע ישראל – Ouve, Israel), pois ali está o entregar da alma em “Echad” (אחד – Um) do primeiro versículo.

Depois vem o mandamento “Ve’ahavta” (ואהבת – Amarás), que já é a hitpa’alut da alma e que precisa de mandamento e esforço, sendo chamado polchana derachimutá (פולחנא דרחימותא – serviço do amor).

O conteúdo desse princípio, como dito, é que a principal hitpa’alut deve ser hitpa’alut Elokit (excitação divina).
E dentro dela existem duas categorias: deveikut e ahavá.

O assunto é assim: é sabido que a nefesh Elokit (alma divina) possui cinco níveis: Nefesh, Ruach, Neshamah, Chayah, Yechidah (נפש, רוח, נשמה, חיה, יחידה). O mais elevado é a Yechidah, que é a ligação essencial e adesão permanente, como disse Rashbi: “Beih achida, beih le’ita” (ביה אחידא ביה להיטא – “nele estou unido, nele me inflamo”).

E isso existe também em cada judeu, cada um conforme sua medida (kol chad lefum shiura dilei – כל חד לפום שיעורא דיליה).

Isso precisa ser explicado bem, pois se vê claramente que mesmo em uma pessoa de nível baixo, com uma alma fraca e limitada em compreensão e caráter, quando ouve algo de hitbonenut (התבוננות – contemplação) em Elokut — por exemplo, a explicação de Sovev u-Memalé (סובב וממלא – transcendência e imanência divinas) — sua alma se excita profundamente. Em iídiche: er der hert zeyer (ער דער הערט זייער – “ele realmente sente muito”).

Esse sentido não vem de outra coisa senão da raiz de sua alma, isto é, da dimensão de Elokut em sua alma, que é sua Yechidah, acima do poder de chochmah (חכמה – sabedoria).

É a ligação essencial chamada deveikut, na qual a alma se apega automaticamente à Elokut que está em sua própria essência, tal como uma centelha que é atraída pela chama.

E isso é chamado de hitpa’alut Elokit mamash (excitação divina verdadeira).

Capítulo 8

À primeira vista, pode cair aqui um erro extremo: porque, de fato, pode-se encontrar facilmente um tipo de deveikut (דביקות – adesão) parecido com o verdadeiro, mas que na realidade é o seu oposto completo, não sendo de modo algum hitpa’alut Elokit (התפעלות אלוהית – excitação divina).

Vemos claramente que a hitpa’alut (excitação) da maioria das massas é apenas uma hitpa’alut chitzonit (excitação externa), nascida de ilusões da mente e do coração durante a tefilá (oração). Ela se manifesta como um clamor externo do lev basar (לב בשר – coração de carne), sem nenhuma luz ou vitalidade interior, e não é dirigida a HaShem-יהו״ה.

Pois, nesse momento, não há em sua mente nenhuma hitbonenut Elokit (התבוננות אלוהית – contemplação divina) verdadeira, apenas algo muito geral. E mesmo esse geral não é com a qualidade de shemiyá (שמיעה – “escuta interior”), mencionada antes, que atrai a alma desde sua profundidade. Também essa contemplação geral não é de fato shemiyá – em iídiche: der hert (דער הערט – ele realmente “ouve internamente”).

Embora no mundo chamem isso de deveikut ou de hitlahavut (התלהבות – entusiasmo), na realidade é um deveikut shav (דביקות שוא – adesão falsa), oposta ao verdadeiro deveikut, que é chamado hitpa’alut Elokit. Ele parece exteriormente o mesmo, mas não é deveikut em HaShem de forma alguma.

E toda adesão que não é a HaShem não vale nada, como está escrito: “E vós que adereis a HaShem… estais vivos” — somente essa adesão é chamada vida. Já o dveikut chitzoni (adesão externa), que não é a HaShem, é considerado como morto, porque sua alma não vive de sua fonte divina.

Isso é chamado de oved et atzmo (עובד את עצמו – serve a si mesmo, em iídiche: der hert zich mer nit – “ele só sente a si mesmo”), e não de oved HaShem (servo de Deus).

E nem mesmo pode ser chamado ovdei HaShem be-gufam (עובדי ה׳ בגופם – aqueles que servem a Deus com o corpo). Pois estes, apesar de servirem de forma mais externa, ainda são servos de HaShem.

Esse nível de avodá (עבודה – serviço) é a hitpa’alut de amor a HaShem que se expressa também como ahavá tiv’it (אהבה טבעית – amor natural), até mesmo da nefesh habehemit (נפש הבהמית – alma animal). Como está no versículo: “E amarás a HaShem… bechol levavcha” (בכל לבבך – com todo o teu coração), e os Sábios explicam: “com os dois yetzarim” (יצרים – inclinações, o bem e o mal).

Ainda que isso não seja a hitkashrut atzmit (התקשרות עצמית – ligação essencial) da nefesh Elokit (נפש אלוקית – alma divina), é, no entanto, chamado de servir a HaShem com o corpo. Pois o coração e a carne física realmente se excitam com El Chay HaChayim (אל חי החיים – o Deus Vivo), como no versículo: “Libi u-vesari yeranenu el El Chay” (לבּי ובשרי ירננו אל אל חי – meu coração e minha carne cantarão ao Deus Vivo).

Aqui, “b’sari” (בשרי – minha carne) significa literalmente o coração de carne, que sente prazer físico e ainda assim se deleita em HaShem. E nisso pode haver até um nível elevado que chega à ahavá be-ta’anugim (אהבה בתענוגים – amor em deleites), que se conecta à bechiná de-Yechidá (בחינת יחידה – nível da alma chamado Yechidá), como será explicado adiante.

O contrário disso é a hitpa’alut do lev basar chitzoni (לב בשר חיצוני – coração de carne externo), no fervor e no calor de um esh zarah (אש זרה – fogo estranho), que vem apenas da ebulição do sangue. Isso não é o fogo de HaShem, mas apenas o aquecimento do próprio coração e da carne, sentindo o calor de suas emoções.

Essa é uma ilusão gravíssima — em iídiche: zeyer g’innart bei zich (זייער גינארט בייא זיך – “ele se enganou muito consigo mesmo”). Isso leva a imaginações falsas e vãs, como se sabe até em assuntos mundanos.

É sobre isso que disseram em tom de alusão: “Lo titpalelu al dimechem” (לא תתפללו על דמכם – não reze apenas sobre o vosso sangue), ou seja, não rezar apenas com o sangue, mas com a nefesh (נפש – alma) que está no sangue.

Sobre essas pessoas está escrito: “Kesil lo yachpotz betevunah, ki im b’hitgallut libo” (כסיל לא יחפוץ בתבונה כי אם בהתגלות לבו – “O tolo não deseja entendimento, apenas expor a emoção de seu coração”).

Quem já provou uma vez a verdadeira doçura dos Divrei Elokim Chayim (palavras do Deus Vivo) rejeita e odeia esse caminho falso, pois é apenas gasut (גסות – grosseria) e expansão externa do eu. Isso leva a dizer: “Ani ve-efsi od” (אני ואפסי עוד – “eu e nada além de mim”), caindo no orgulho como os arrogantes materiais deste mundo.

Além disso, aquele que cai nesse caminho pode ser levado por seus desejos pessoais, até chegar a ser arrastado por um esh zarah completo, como se viu em muitas quedas.

Ao contrário, quanto mais a pessoa está ligada à verdadeira hitpa’alut Elokit, mais odeia e rejeita esse esh zarah que lhe é oposto.

Esse tema é muito sutil, com muitas gradações e diferenças delicadas. Mesmo estudiosos não conseguem discernir todos os detalhes e acabam confundindo luz com escuridão.

Eu sei com certeza que muitos se enganam, achando que a excitação de seu coração de carne é uma sensação divina, quando, na realidade, é apenas corporal. No máximo, há ali um pequeno reshimu (רשימו – vestígio, resquício) de luz divina, muito oculto, vindo da hitbonenut (contemplação), sem que percebam.

Capítulo 9

E explicarei agora a minha fala, pois não venho para dar uma derashá (דרשא – homilia), mas sim para trazer à luz o objetivo final, que é a revelação da verdadeira Elokut (אלקות – Divindade) em nossas almas etc.

A introdução para isso deve ser dada através de um exemplo encontrado nos escritos que possuo, das palavras elevadas de interioridade e doçura da Torá de meu pai, mestre e rabino, de abençoada memória, cuja alma está no Éden. Ele explica o ensinamento do Zôhar HaKadosh (זוהר הקדוש – Santo Zohar), na Parashat Pekudei (133a):

“E eis que um homem, cuja aparência era como a do cobre, e um cordão de linho e uma vara de medir estavam em sua mão etc.”

O Zôhar comenta: “A primeira cobertura de cores sagradas que cobriu o Mishkan, seu número chega a 32 (pois o comprimento do cortinado era 28 e a largura 4). A segunda cobertura, exterior, que cobria a primeira, chegava ao número de 34 (os cortinados de pelos de cabra eram de comprimento 30 e largura 4 etc.). Esta era menor mas mais elevada, e aquela maior mas inferior etc.”

Pode-se ver a cópia desta explicação nos escritos em minha posse. Dela se compreende todo o essencial desta questão, em todos os seus detalhes e subdivisões, literalmente, pois por meio dela se entende a essência do assunto:

O principal diferencial entre a Sitra deKedushá (סטרא דקדושה – lado da Santidade) e a Sitra deNogah (סטרא דנוגה – lado de Nogah) é que, em Kedushá, o aspecto do kli (כלי – recipiente), que é o “algo” do or (luz), está em completa bittul (ביטול – anulação). Já no kli de Nogah, o “algo” é sentido como existência aumentada além da luz, e esse acréscimo é, na verdade, uma deficiência.

A explicação é compreendida pelo versículo: “Chessed le’umim chatat” (חסד לאומים חטאת – “A bondade das nações é pecado”), pois, nas nações, a luz do Chessed (bondade) é separada da Elokut. Por isso, o kli (a consciência de “eu”) expande-se mais do que a própria luz, e esse acréscimo é uma perda, até ser chamado de “pecado.”

De modo paralelo, disseram os Sábios: “Os tzadikim dizem pouco e fazem muito.” Explicação: “Dizem” refere-se ao aspecto do kli que revela. “Dizem pouco” – ou seja, no aspecto de bittul. E “fazem muito.”
Mas nos resha’im (ímpios) é o oposto: “Dizem muito”, no aspecto da arrogância e da expansão do yesh (ישות – senso de existência) do kli, mas “fazem pouco”, devido à perda da luz, como explicado acima.

De modo semelhante vemos no fenômeno do excesso e da exagerada hitpa’alut chitzonit (התפעלות חיצונית – excitação externa) ilusória no lev basar (לב בשר – coração de carne) mencionado acima. Isso vem do hitpashtut ha-yesh shel Nogah (התפשטות היש של נוגה – expansão do ego de Nogah), o que é perda total da interioridade, até que se transforma de bem em mal, D’us nos livre.

Já no lado da Kedushá, mesmo o aspecto do “yesh” sentido no coração de carne vem em completa anulação (bittul), em ausência total de autoconsciência. E quanto menos ele sente a si mesmo, mais isso vem do acréscimo de luz e vitalidade interior.

Esse é o diferencial geral, visível a todo aquele que já provou o gosto das palavras do Divrei Elokim Chayim (דברי אלקים חיים – palavras do Deus Vivo). Este é o fundamento da distinção geral mencionada acima.

E para reconhecer todos os sinais, nos mínimos detalhes dos diferentes níveis, sem se enganar, é preciso antes entender a raiz da questão da total ausência de autoconsciência durante a verdadeira hitpa’alut Elokit (התפעלות אלהות – excitação Divina) sentida no coração de carne.

À primeira vista, parece impossível acreditar que uma sensação possa ser, ao mesmo tempo, totalmente sentida e totalmente ausente da sensação – pois isso são dois opostos no mesmo lugar.

Para explicar isso, é necessário introduzir o conceito do nigun (ניגון – melodia).
É sabido o que está dito sobre Ra‘aya Meheimna (רעיא מהימנא – o Pastor Fiel, Moshe Rabeinu), que ele costumava cantar todos os tipos de melodias durante suas preces.
Isso porque ele incluía as 600.000 almas de Israel, e cada alma, ao subir à sua raiz de origem, faz isso especificamente através do cântico.

Esse é o aspecto da hitpa’alut atzmit (התפעלות עצמית – excitação essencial), chamada ahavah be-ta‘anugim (אהבה בתענוגים – amor de deleites), conforme a forma de sua raiz no deleite superior (oneg elyon).
E como Moshe incluía todas as almas, ele cantava todos os tipos de nigunim, como explicado em outro lugar.

Primeiro, é preciso entender a natureza da hitpa’alut shel nigun (התפעלות של ניגון – excitação do cântico): é uma excitação súbita (pit’omit), sem escolha ou vontade intelectual. É algo simultaneamente sentido e não sentido, porque não vem da intenção de se excitar, mas de maneira automática, sem que ele mesmo saiba.

Por isso, é como se ele não sentisse nada de si mesmo naquele momento, embora haja ali uma sensação. Isso é chamado de ausência de autoconsciência, embora, de fato, seja uma excitação real.

Exemplo: quando uma pessoa recebe uma boa notícia inesperada, a alegria é tão forte que seu coração se agita e ele chega a bater palmas com força, espontaneamente e sem intenção. É sinal de que ele não está consciente de si mesmo, mesmo que o coração sinta – pois o movimento veio automaticamente, do vínculo essencial com a boa notícia.

O mesmo ocorre no oposto, na ira: a pessoa não sente a si mesma, apenas é tomada pelo ímpeto.

Isso é diferente de uma excitação produzida intencionalmente, quando alguém força sua mente com muita hitbonenut (התבוננות – contemplação) até se excitar. Aí, o foco é só na excitação, e ele espera e deseja por ela; se não vem, sofre; se vem com calor, se alegra; se não vem, se entristece.

Sobre isso, muitos de nossos Anash (אנ״ש – membros da irmandade chassídica) estão confusos: uns dizem que é permitido, outros que é proibido, e há posições intermediárias.

Por isso, é necessário esclarecer bem este assunto, pois ele é o eixo e fundamento geral para a recepção dos Divrei Elokim Chayim durante a Tefilá (תפלה – oração).

Capítulo 10

E eis que, ao que parece, há aqui cinco níveis, um acima do outro, e cada um virá em seu devido lugar, para que não se engane o enganado etc.

O primeiro (ha-rishon) é o pior de todos.
Este é o caso em que todo o seu desejo (chefetz) não é senão que ele esteja excitado (mitpa’el) apenas, e que disso tenha vitalidade (chiyut).
Isto corresponde ao nível mais baixo de todos, até que seja quase semelhante ao assunto da hitpa‘alut lev basar chitzoni (התפעלות לב בשר חיצוני – excitação externa do coração de carne) mencionado acima, que é apenas a sensação de si mesmo.

Pois ele não deseja nem intenciona o aspecto da Elokut (אלקות – Divindade) de forma alguma.
Sua intenção e objetivo não é que a Elokut habite em sua alma, ou que sua alma esteja ligada à Elokut, mas apenas que tenha alguma vitalidade (chiyut) e se sinta como um “algo” (yesh).

No entanto, apesar disso, existe aqui alguma mistura de bem (ta’arovet tov) em ocultamento, e isso vem do aspecto da ahavah ha-mesuteret (אהבה המסותרת – amor oculto), isto é, que está encoberto em sua vestimenta estranha (levush zar), pois ele deseja.

Mas, mesmo assim, em ocultamento, seu desejo essencial é que sua hitpa‘alut (excitação) seja para HaShem-יהו"ה especificamente, e não para outra coisa.
Se não fosse para HaShem-יהו"ה, ele de modo algum o desejaria.

Embora, em revelação, não seja assim, pois não lhe vem ao coração o conteúdo da questão – que é que haja uma revelação da Elokut em sua alma, não por causa de seu prazer próprio, mas apenas por seu desejo de Elokut.

Sobre isso está dito: “Karvat Elokim li tov” (קרבת אלהים לי טוב – “A proximidade de Elohim é boa para mim”), como é sabido.

Capítulo 11

E este é o segundo nível, acima do anterior, que é o aspecto da shemiah merachok (שמיעה מרחוק – escuta de longe), mencionado acima.

Ele ouve e se aprofunda especificamente na Elokut (אלקות – Divindade), e entende bem até que se torne estabelecido e aceito em seu intelecto, pelo menos, que isto é verdade absoluta (em iídiche: es legt zich in moach zeyer gut – “se fixa muito bem em seu intelecto”).

Mas o assunto ainda está distante dele, e ele pergunta: que proveito virá para a sua alma disso?
Ou seja, embora o próprio fato da hitbonenut be-Elokut (התבוננות באלקות – contemplação na Divindade) seja muito precioso aos seus olhos e seja aceito por ele em forma de hoda’ah (הודאה – reconhecimento), de modo que a Elokut se engrandece e se eleva em sua mente e também em seu coração ao máximo grau de exaltação, mesmo assim ele deseja e anseia que esse assunto Divino esteja fixado em sua alma e em seu coração em um aspecto revelado e sentido, e não em ocultação e de longe (em iídiche: es iz der inyan veit zeyer fun im, es gehert nit zu im, un nit shayach klal zu im – “este assunto está muito distante dele, não lhe pertence, e não tem relação alguma com ele”), como é sabido.

Este é um nível melhor, que está próximo de chegar ao aspecto de hitpa‘alut Elokut (התפעלות אלוה – excitação Divina), pelo menos em alguma medida,
pois, de qualquer forma, a contemplação da Elokut é grande em sua alma, ele a deseja muito, e o seu objetivo principal e sua vontade é se aproximar dela.

Mas, embora ele se esforce, não provoca de fato nenhuma hitpa‘alut Elokut (excitação Divina) a partir disso, nem no coração nem no intelecto.

E isto não é para si mesmo, mas somente para a Elokut, pois ele deseja apenas que a proximidade de Elohim esteja fixada em sua alma.

Este é o verdadeiro início dos que buscam e procuram Elohim em verdade e integridade, com uma intenção aceita diante da Elokut, especificamente.

Capítulo 12

E o terceiro nível, acima do anterior, é chamado machshavah tovah (מחשבה טובה – bom pensamento) que se junta à ação, isto é, ahavah ve-yirah (אהבה ויראה – amor e temor) que dizem respeito apenas à prática.

A explicação é a seguinte: no segundo nível, mencionado acima, embora a sua intenção seja aceita diante da Elokut (אלקות – Divindade), ou seja, que ele deseja apenas estar próximo e não distante da Elokut, e esse desejo surge por causa da preciosidade da grandeza de HaShem em seu intelecto, ainda assim, o seu pensamento não se excita de fato, pois a coisa ainda lhe é totalmente distante. Ele apenas deseja aproximar-se, mas ainda não se aproximou.

Isto é apenas uma forma de hoda’ah (הודאה – reconhecimento, admissão) no intelecto. Portanto, não se chama “bom pensamento” (machshavah tovah), mas apenas “pensamento” (machshavah).

Isso pode ser entendido por meio de uma analogia nos assuntos do mundo:
vemos que existem dois tipos de pensamento:

  1. O primeiro é quando uma pessoa pensa em algo bom e precioso que lhe parece muito grandioso, como um tesouro de riquezas preciosas que pertence a outro, ou na extraordinária grandeza e honra de um rei ou príncipe.
    Esse pensamento é chamado de machshavah karah (מחשבה קרה – pensamento frio), porque não lhe diz respeito de modo algum. Nem o dinheiro nem a honra lhe pertencem. Ele apenas pensa nisso porque é precioso e importante aos seus olhos, e deseja muito que algo tão bom lhe chegasse.

  2. O segundo tipo é quando pensa em algo bom que lhe diz respeito diretamente, como um lucro num negócio, ou uma honra recebida, ou riquezas que ele próprio adquire.
    Esse tipo de pensamento vem acompanhado de hitpa‘alut (התפעלות – excitação) e de um certo movimento da alma, chamado devekut ha-machshavah (דביקות המחשבה – adesão do pensamento).
    Em iídiche: tzu giklebt zeyer shtark di machshavah az es art un rirt im zeyer – “o pensamento se apega fortemente, pois o afeta e o toca muito”.
    Isto é também chamado de shemiah sheba-machshavah (שמיעה שבמחשבה – ouvir no pensamento), em iídiche: er hot gut derhert in der machshavah – “ele percebeu bem no pensamento”.
    O sinal disso é a distração e o movimento de seu lugar, em iídiche: fartragen un farnumen – “ser carregado e tomado”.

Da mesma forma, é assim quando se trata da hitbonenut be-Elokut (התבוננות באלקות – contemplação da Divindade) nesse tipo de pensamento, que se apega como algo que lhe diz respeito.
Isso é chamado machshavah tovah (bom pensamento), que se junta à ação, ou seja, sua consequência é o nascimento de ahavah ve-yirah (amor e temor) que dizem respeito, ao menos, à prática.

Porém, no machshavah karah (pensamento frio), mencionado antes, embora ele queira se aproximar e excitar-se, ainda não chegou nem mesmo à etapa de “ouvir no pensamento”. É apenas um reconhecimento distante.
O resultado disso não é senão boshah (בושה – vergonha), isto é, cair-lhe no coração vergonha de si mesmo por estar distante e pela sua baixeza, assim como a baixeza geral deste mundo material.
Depois de assimilar a hitbonenut be-Elokut, ele suspira e geme (em iídiche: er afal bei zich zeyer shtark un di velt vert zeyer ara gifalin – “ele cai fortemente em si e o mundo desaba perante ele”).

E disso só nasce a decisão de sur mera (סור מרע – afastar-se do mal), ou seja, já que é assim, é muito justo e adequado afastar-se do mal e fazer o bem.

Este é o nível mais baixo, mas ainda assim pode levar ao Gan Eden ha-tahton (גן עדן התחתון – Paraíso inferior), porque contém algum aspecto de Elokut, proveniente da contemplação da Divindade.
Porém, não se chama ahavah ve-yirah de fato, no sentido de hitpa‘alut (excitação).

(Isto é diferente do nível mais baixo de todos, mencionado acima, onde não há nenhum aspecto de Elokut, apenas o desejo de excitação, sem relação alguma com a Divindade, exceto de modo muito oculto.)

Mas sobre o machshavah tovah (bom pensamento), mencionado acima, foi dito também: “Shema Yisrael…” e, em seguida, “Ve’ahavta…”. O essencial aí não é a excitação do coração, mas a hitpa‘alut da-shemiah (התפעלות דשמיעה – excitação da audição), no pensamento, da qual nasce o amor.

Mesmo assim, o coração ainda não se excita, apenas o pensamento.
E este amor não pertence ao aspecto interior (penimiut) como ocorre na excitação do coração, mas apenas em relação à ação, isto é, ao sur mera (afastar-se do mal).

Ainda assim, ele está acima da decisão resultante do machshavah karah (pensamento frio), no qual o amor vem apenas por ser o “caminho certo”, mas sem nenhuma excitação no pensamento.
Aqui, no entanto, o amor já nasce da hitpa‘alut ba-machshavah (excitação no pensamento), como o desejo intenso de que haja uma revelação da Elokut em suas boas ações, e de se afastar ao máximo do oposto, que se opõe à Elokut.

Tudo isso é chamado dechilu u-rechimu (דחילו ורחימו – temor e amor), ainda que apenas em relação à prática.
Mas neles há grande luz (or) e vitalidade (chiyut) no pensamento, como na analogia do pensamento mundano que diz respeito diretamente à pessoa, em que há amor no pensamento com hitpa‘alut e também temor do oposto, como o temor de dano ou destruição.
E isso basta para o entendimento.

Capítulo 13

E o quarto nível, que está acima do anterior, é quando, devido à hitbonenut Elokut (התבוננות אלקות – contemplação da Divindade), a pessoa se excita profundamente no pensamento, como explicado acima. Imediatamente o seu coração também se excita, numa hitpa‘alut (התפעלות – excitação) sentida com uma luz (or, אור) e vitalidade (chiyut, חיות) maiores e mais interiores do que a hitpa‘alut do pensamento mencionada anteriormente.

(E isto ainda não é o nível de hitpa‘alut Elokit – excitação divina autêntica – em que também o coração, mencionado antes, sente de forma conjunta com a neshamah Elokit [נשמה אלוקית – alma divina] e que se espalha até o corpo. Esse nível está muito acima, inclusive, do quinto nível que será explicado.)

Sobre este nível está dito: “Ve’ahavta bechol levavcha” (ואהבת בכל לבבך – “E amarás [a HaShem] com todo o teu coração”), especificamente.
Este é o principal da mitsvá na avodah shebalev (עבודה שבלב – serviço do coração): esforçar-se tanto no pensamento até que o coração, especificamente, se excite.

Isso é chamado de polchana de-rachimuta (פולחנא דרחימותא – serviço de amor), um serviço real, mas que requer grande esforço (yegiah, יגיעה).

Pois nos assuntos mundanos, logo que surge no pensamento algo bom, o cérebro se excita e imediatamente essa excitação atinge o coração, que se inflama com as chamas do desejo. O contrário também é verdade: quando o pensamento se ocupa de algo mau e repulsivo, o coração logo se amarga.

Mas em avodat HaShem (עבודת ה׳ – serviço de Deus), não é tão fácil que a excitação do pensamento se traduza em excitação do coração. Isso porque o aspecto da Divindade nessa contemplação não desce ao coração de forma revelada, mas permanece como um or makif (אור מקיף – luz circundante) no intelecto.

E existem aqui muitos graus diferentes:
– Em alguns, o coração se excita mais do que o cérebro;
– em outros, a excitação é com alegria intensa;
– e assim por diante.

De todo modo, este nível já é chamado de dechilu u-rechimu (דחילו ורחימו – temor e amor) propriamente dito, ainda que, de forma geral, seja denominado dechilu u-rechimu tiv‘iyim (דחילו ורחימו טבעיים – temor e amor naturais).

(Contudo, como já foi dito, isso ainda não é chamado de hitpa‘alut Elokit – excitação divina – que provém unicamente da neshamah Elokit, como será explicado adiante.)

Sobre isto está escrito: “Kirvat Elokim li tov” (קרבת אלקים לי טוב – “A proximidade de Deus é para mim o bem”), literalmente “para mim”. E também é chamado de “Elohai beqirbi” (אלקי בקרבי – “Meu Deus dentro de mim”). Ou seja: amar a HaShem com o coração, porque “Hu chayecha” (הוא חייך – Ele é a tua vida), como já foi dito acima.

O nível de ahavah ve-yirah (אהבה ויראה – amor e temor) que nasce da revelação das emoções do coração é uma luz interior e uma vitalidade imensa que se traduz em prática: sur mera (סור מרע – afastar-se do mal) e aseh tov (עשה טוב – fazer o bem).

Isto significa:
– Cumprir as mitsvot assé (מצוות עשה – mandamentos positivos) com grande amor e desejo, de modo que cada ato esteja repleto de luz e vitalidade interiores;
– e, inversamente, sentir amargura e indignação contra aquilo que se opõe a Deus, afastando-se de todo mal e guardando-se dele com a mesma força de excitação.

É semelhante a um homem nos negócios, cujo coração está tomado pela paixão de lucrar: tudo que beneficia o comércio, ele faz com zelo e rapidez; tudo que ameaça o negócio, ele rejeita e evita com igual intensidade.

Assim, sobre este nível se fundamenta a raiz das 248 mitsvot assé (רמ״ח מצוות עשה – mandamentos positivos), que vêm do ahavah (amor), já que o amor é a raiz de cumprir ativamente.
E as 365 mitsvot lo ta‘assé (שס״ה מצוות לא תעשה – mandamentos negativos) têm sua raiz no yirah (temor), que leva a abster-se.
Estes dois – ahavah e yirah – correspondem às forças de Chesed (חסד – bondade) e Gevurah (גבורה – severidade) no coração.

E sobre isso está escrito: “Le’ahavah oto u-le‘avdo” (לאהבה אותו ולעבדו – “Amá-Lo e servi-Lo”), como é sabido.

Portanto, este quarto nível é mais elevado do que a excitação de amor e temor apenas no pensamento (o nível da “machshavah tovah”, מחשבה טובה – bom pensamento) mencionado anteriormente.
E isto basta para o entendimento.

Capítulo 14

E a quinta madregá (מדרגה – nível), que está acima ainda da anterior, é o aspecto da kavaná (כוונה – intenção) no coração, que está acima até mesmo da hitpa’alut ha’lev (התפעלות הלב – excitação do coração).

A explicação é a seguinte: ainda que a pessoa se emocione no coração com uma hitpa’alut completa — de desejo, de alegria ou de amargura — que vem da hitbonenut (התבוננות – contemplação), no exato momento em que o coração se excita, encurta-se toda a extensão e profundidade do assunto divino que provocou tal emoção.
Resta apenas aquilo que toca diretamente à hitpa’alut do coração — ou seja, o resumo condensado da contemplação, como as ideias de memalê (ממלא – imanência divina) e sovev (סובב – transcendência divina), cuja essência se reduz a: “Kula kamei ke’lo chashiv” (כולא קמיה כלא חשיב – diante Dele tudo é como nada).

E justamente por essa condensação é que o coração se inflama ainda mais. Mas, comparado à kavaná plena do coração, que permanece no assunto divino em toda sua largura e profundidade, sem cair na emoção imediata do coração, esse encurtamento é chamado katnut (קטנות – pequenez), em relação ao nível da kavaná essencial.

Um exemplo em assuntos do mundo: quando a pessoa concentra a nekudat ha’lev (נקודת הלב – ponto do coração) com toda a profundidade do intelecto em algum grande negócio ou objetivo precioso, sua alma inteira é atraída a isso. Nesse estado, ainda não chega a se excitar no coração em termos de emoção palpável, porque tanto o intelecto quanto o coração estão totalmente ocupados apenas na qualidade essencial daquela coisa boa.
Esse estado é chamado Mochin de-Gadlut (מוחין דגדלות – intelectos de grandeza) dentro de Chabad (חכמה, בינה, דעת – sabedoria, entendimento e conhecimento).

E mesmo que lá haja também ahavá ve-yirah (אהבה ויראה – amor e temor), eles estão ocultos, e são chamados apenas dechilu u-rechimu sechelíim (דחילו ורחימו שכליים – temor e amor intelectuais). Isso está acima dos dechilu u-rechimu tiv’i’im (דחילו ורחימו טבעיים – temor e amor naturais) no coração, mencionados antes.

A diferença é a seguinte: os tiv’i’im (naturais) são separados da contemplação — em iídiche: der bechin der fun, az es iz azoy bechin (דער בכן דער פון אז עס איז אזו בכן – “a sensação é separada da raiz do entendimento”).
Mas os sechelíim (intelectuais) não se separam da contemplação de forma alguma; eles vêm automaticamente, sem escolha ou esforço.

Assim também no coração, os dechilu u-rechimu intelectuais surgem automaticamente, como a alegria espontânea que leva alguém a bater palmas sem pensar (como explicado antes).
O sinal desse nível é que a hitpa’alut permanece constante e não se interrompe, diferente dos tiv’i’im, que caem e precisam ser despertos novamente.

Por isso, não se aplica aqui o termo de yegi’ah (יגיעה – esforço) em dechilu u-rechimu sechelíim, como nos tiv’i’im.
E como foi explicado em outro lugar sobre o versículo: “Elohim, al dumi lach… lema’an yezamercha kavod” (אלהים אל דמי לך… למען יזמרך כבוד – “Ó Deus, não fiques em silêncio… para que minha alma cante a Ti em glória”), em que a luz inferior é chamada tadir (תדיר – contínua).

E acima disso, ainda, há o nível do ratzon hapashut (רצון הפשוט – vontade simples), que está além totalmente da contemplação (hitbonenut).
É um desejo essencial, simples, do qual o intelecto nasce e se ramifica, como é sabido.

Capítulo 15

E assim, fica entendido e explicado de tudo o que foi mencionado acima nesta categoria geral, que é a hitpa’alut (התפעלות – excitação, comoção) no intelecto (moach) e no coração (lev), que nasce e se forma especificamente por meio da preparação inicial, que é a hitbonenut (התבוננות – contemplação), até chegar à quinta madregá (מדרגה – nível), que é a própria kavaná (כוונה – intenção) em Chochmah u’Binah (חכמה ובינה – sabedoria e entendimento), que ilumina também o coração, como foi explicado acima.

Agora, o primeiro nível mencionado anteriormente — em que a pessoa não deseja nada além de excitação, sem contemplar a Divindade (Elokut) de forma alguma — está próximo do que se chama Esh Zarah (אש זרה – fogo estranho), mencionado acima, pois não é o fogo de HaShem-יהו"ה, e por isso não é contado entre as cinco madregot.

As cinco madregot correspondem, de fato, às cinco partes da alma (Naran Chai – נר״ן ח״י, Nefesh, Ruach, Neshamah, Chayah, Yechidah), como é sabido:

  1. Bechinát Nefesh (בחינת נפש – aspecto de Nefesh), que corresponde ao nível da Assiyah (עשיה – ação).
    Este é o nível do consentimento prático apenas, que vem da hodaa (הודאה – aceitação, reconhecimento intelectual) e é chamado de machshavah stam (מחשבה סתם – pensamento simples, sem emoção), como explicado acima.

  2. Bechinát Ruach (בחינת רוח – aspecto de Ruach), que possui maior vitalidade (chiyut), corresponde à hitpa’alut machshavah tovah (התפעלות מחשבה טובה – excitação da boa reflexão), mencionada acima.
    Como está escrito: “Ve’tochen ruchot” (ותוכן רוחות – Ele sonda os espíritos), isto é a shemi’ah tovah (שמיעה טובה – boa escuta) dentro do pensamento, como foi explicado, e também: “Achen ruach hi va’enosh” (אכן רוח הוא באנוש – de fato, é o espírito no homem).

  3. Bechinát Neshamah (בחינת נשמה – aspecto de Neshamah) é o brilho (ha’arat) dos Mochin de-Chochmah u’Binah (מוחין דחכמה ובינה – intelectos de sabedoria e entendimento) no coração, quando o coração se emociona com uma luz e vitalidade mais internas, como explicado acima.
    Sobre isso está escrito: “Ve’Nishmat Shaddai tevinem” (ונשמת שדי תבינם – o sopro do Todo-Poderoso lhes dá entendimento), e também: “Binah liba” (בינה ליבא – o coração entende), e é isto que significa: “Ve’tochen levavot” (ותוכן לבות – Ele sonda os corações).

  4. Bechinát Chayah (בחינת חיה – aspecto de Chayah) corresponde ao próprio Chochmah u’Binah como são em sua essência, antes de se expandirem em emoção no coração.
    Este é o nível chamado de kavaná (כוונה – intenção), explicado acima.

  5. Bechinát Yechidah (בחינת יחידה – aspecto de Yechidah) é a quinta madregá propriamente dita, o nível do ratzon atzmi hapashut (רצון עצמי הפשוט – vontade essencial e simples), que está acima totalmente da razão (ta’am) e do intelecto (sechel).
    Pois, como é sabido, não há razão para a vontade (ratzon) — o querer é absoluto, acima do intelecto.

E isso é suficiente para o entendimento (v’dai la’meivin – ודי למבין).

Capítulo 16

Mas eis que todas as cinco madregot (מדריגות – níveis) mencionadas acima estão todas dentro da Nefesh ha’Sechelít (נפש השכלית – alma intelectual), que é chamada de Nefesh ha’Tiv’it ha’Chiyunit (נפש הטבעית החיונית – alma natural vital).

Também ela pode consentir e aceitar (hoda’ah – הודאה) e chegar à hitpa’alut ba’Moach (התפעלות במוח – excitação no intelecto) e à hitpa’alut ba’Lev (התפעלות בלב – excitação no coração), até mesmo ao nível da Kavanah (כוונה – intenção) e do Ratzon Pashut (רצון פשוט – vontade simples).
Tudo isso, porém, é chamado de “Oved HaShem be’Gufo” (עובד ה׳ בגופו – aquele que serve a HaShem com o corpo), mas não é chamado de “Oved HaShem be’Nishmato” (עובד ה׳ בנשמתו – aquele que serve a HaShem com a sua alma divina).

Pois a Neshamah (נשמה – alma divina), em sua essência, é uma força totalmente divina (Koach Eloki mamash – כח אלהי ממש).
E todas as cinco madregot de Naran Chai (נר״ן ח״י – Nefesh, Ruach, Neshamah, Chayah, Yechidah), que pertencem à Neshamah, são no aspecto de hitpa’alut Elokut mamash (התפעלות אלקות ממש – excitação divina autêntica), e não de excitação corporal de modo algum.
Somente que elas se vestem no cérebro e no coração físicos, e então suas iluminações e expansões vêm também ao intelecto e ao coração físicos nas mesmas cinco madregot.

O nível mais baixo desse tipo é quando o coração sente a excitação divina que provém da Neshamah, conforme mencionado acima.

Portanto, é preciso compreender de modo muito refinado o assunto da hitpa’alut Elokut (excitação divina) que vem da própria Neshamah.
Pois este é o objetivo essencial e o fundamento verdadeiro na revelação de Elokut (Gilui Elokut – גילוי אלקות) em autenticidade.
Este é o propósito final das Divrei Elokim Chayim (דברי אלקים חיים – palavras do Deus Vivo) na contemplação (hitbonenut – התבוננות).

Este é o aspecto da Deveikut (דביקות – adesão, ligação essencial) mencionado acima, que é chamado de “Chayim Atzmiyim” (חיים עצמיים – vida essencial), como está escrito: “Ve’atem ha’dveikim b’HaShem... chayim” (ואתם הדבקים בה׳... חיים – “E vós, que vos apegais a HaShem... estais vivos”), e também: “Ki Hu Chayecha” (כי הוא חייך – “Pois Ele é a tua vida”).

Isto resume a distinção geral entre hitpa’alut Elokit mamash (excitação verdadeiramente divina) e hitpa’alut Chayei Basar (excitação de vida carnal), como foi explicado acima.

Capítulo 17

Eis que é necessário explicar e esclarecer bem esta bela sichá (שיחה – explicação/discurso), pois observamos um fenômeno maravilhoso no assunto da “shemiyat ozen” (שמיעת אוזן – escuta do ouvido, percepção auditiva) no intelecto humano, ao ouvir Divrei Elokim Chayim (דברי אלקים חיים – palavras do Deus Vivo), de modo que o intelecto se emociona intensamente.

E não se pode dizer que isso acontece porque este intelecto é mais profundo do que outro, pois existem muitos intelectos ainda mais profundos e amplos.
Além disso, vemos claramente que há pessoas cujo intelecto se emociona muito ao escutar, e outras que não se emocionam de modo algum.
Como foi explicado acima no assunto de shemiyah merachok (שמיעה מרחוק – escuta de longe): o assunto não lhe pertence de modo algum, mas apenas se fixa nele como verdade, conforme mencionado acima (em lashon Yidish: “er der hert nisht” – ele não ouve, não sente).

E à primeira vista, poderíamos atribuir a causa a uma questão de k’sheron ha’lev (כשרון הלב – aptidão/capacidade do coração) no serviço de HaShem, dizendo que este trabalha com mais capacidade etc.
Mas não é assim. Pois pode ser que o seu coração seja cheio de yirat Elokim (יראת אלקים – temor de Deus) e íntegro em seu serviço, e mesmo assim ele não possua este sentido da escuta (chush ha’shemiyah) de modo algum, como é conhecido por experiência certa.

Se é assim, não resta senão dizer que isso vem da própria Neshamah (נשמה – alma divina), que possui uma força divina, e sua hitpa’alut (התפעלות – excitação/emocionalidade) é chamada de hitpa’alut Elokit (התפעלות אלוקית – excitação divina), isto é, que provém unicamente do aspecto de Elokut (אלקות – Divindade).
Portanto, ao ouvir no aspecto de Elokut, a Nefesh Elokit (נפש אלוקית – alma divina) se emociona com uma hitpa’alut Elokit, somente pelo fato de sua origem ser da fonte divina de onde foi talhada (makor chutzvah – מקור חוצבה).

E nisso há diferenças de níveis (chilukei madregot – חילוקי מדרגות):
há aqueles que são apenas do aspecto de Nefesh (נפש – nível mais baixo da alma), por isso não se emocionam tanto; e os que são do aspecto de Ruach (רוח – nível intermediário), que se emocionam mais, etc.

Capítulo 18

Porém, primeiramente, é necessário entender a questão principal da diferença entre a hitpa’alut Elokit (התפעלות אלהית – excitação/comoção divina) que vem por parte da Neshamah (נשמה – alma divina), e a hitpa’alut (excitação) da Nefesh ha-Sikh’lit ha-Teva’it (נפש השכלית הטבעית – alma intelectual natural) no moach (מוח – mente) e no lev (לב – coração), conforme mencionado acima. Pois, à primeira vista, qual é a diferença entre elas?

O resumo da questão é o seguinte: a hitpa’alut da Neshamah em Elokut (אלהות – Divindade), mesmo quando se comove por meio de uma hasagá (השגה – apreensão intelectual, compreensão contemplativa) e coisas semelhantes, é inteiramente no aspecto de Elokut em si. Até mesmo a própria hasagá é uma hasagá Elokit (השגה אלהית – apreensão divina).

Enquanto isso, a hasagá da Nefesh ha-Teva’it (נפש הטבעית – alma natural), mencionada acima, não pode em absoluto ser comparada àquela. Pois, embora na apreensão da Nefesh ha-Teva’it, quando ela também se comove, o essencial seja apenas pelo aspecto de Elokut naquela apreensão (já que ela não se comoveria por qualquer outro intelecto que não fosse um assunto divino, conforme mencionado acima), ainda assim, essa hasagá provém do aspecto de levush de-Nogah (לבוש דנוגה – a veste de Nogah), que oculta a própria luz divina.

Isso porque toda a essência da raiz da Nefesh ha-Teva’it está nas dez kochot (כחות – faculdades) de ratzon (רצון – vontade), sechel (שכל – intelecto), midot (מדות – emoções), machshavah (מחשבה – pensamento), dibur (דבור – fala) etc., todas vindas do aspecto de levush de-Nogah (a veste de Nogah), que é uma mistura de bem e mal.

Como disseram nossos Sábios, de memória abençoada, que há “três parceiros no homem”: o pai e a mãe trazem a Nefesh ha-Teva’it com suas midot (emoções) e seu sechel (intelecto humano), e o HaQadosh Baruch Hu (o Santo, bendito seja Ele) coloca nele a Neshamah ha-Elokit (נשמה האלהית – alma divina), como está escrito: “E Tu sopraste em mim” (ואתה נפחת בי).

E como está escrito no Etz Chaim (עץ חיים – Árvore da Vida, obra do Arizal), a Neshamah, por si só, não necessita de tikun (תיקון – correção), pois é do Olam ha-Tikun (עולם התיקון – Mundo da Retificação), que é o Olam ha-Atzilut (עולם האצילות – Mundo da Emanação).

(E mesmo o aspecto da Nefesh de-Asiyah – נפש דעשיה – a alma do nível de Asiyah – recebe iluminação da exterioridade dos Kelim (כלים – recipientes) de Ze’ir Anpin (זעיר אנפין – Pequena Face, Partzuf de seis Sefirot) de Atzilut. Como é sabido, os trinta Kelim de Ze’ir Anpin tornam-se Nefesh-Ruach-Neshamah em Beriah-Yetzirah-Asiyah [בי״ע – os três mundos inferiores]. Assim, mesmo no Am ha-Aretz [עם הארץ – pessoa simples, sem estudo], que só possui Nefesh de-Asiyah, nela ainda há um brilho proveniente de Atzilut. Por isso é chamada “Atzilut dentro de Asiyah”).

Ela (a Neshamah) só desceu para refinar (levarer) os levushei Nogah (לבושי נוגה – vestes de Nogah) que o pai e a mãe transmitem.

E é justamente por isso que todo o fundamento do Avodah (עבודה – serviço espiritual) neste mundo, em Torah u-Mitzvot (תורה ומצוות – Torá e mandamentos), com Ahavah (אהבה – amor) e Yirah (יראה – temor), ocorre no nível da hitpa’alut da Nefesh ha-Teva’it, conforme explicado acima nas subdivisões das cinco Madrigot Naran Chai (מדריגות נר״ן ח״י – níveis de Nefesh, Ruach, Neshamah, Chayah e Yechidah) nela.

Mas a Neshamah, por si só, em sua raiz de onde foi talhada, que é o nível de Atzilut dentro de Beriah-Yetzirah-Asiyah, não necessita de tikun (correção).

E para entender isso – pois à primeira vista a Neshamah também se excita por meio de ratzon (vontade), sechel (intelecto) e midot (emoções) – qual é, então, a diferença essencial entre a hitpa’alut da Neshamah em sua apreensão de Elokut e a hitpa’alut da Nefesh ha-Teva’it em sua apreensão de Elokut?

Certamente, em ambos, o que é considerado é apenas o aspecto de Elokut na hasagá (apreensão), e assim também nas midot (emoções) etc.

Capítulo 19

E eis o exemplo para entender a essência da hitpa’alut (comoção/empolgação espiritual) da nefesh ha’elohit (alma divina) em sua percepção, quando está revestida na percepção da nefesh ha’tiv’it (alma natural): pode-se compreender um pouco a partir do que encontramos de que as neshamot (almas) desfrutam do esplendor da Shechiná (Presença Divina) no Gan Éden.

(Também que as neshamot lá estão igualmente em um levush [vestimenta] de Nogah, mas após o birur [refino], e isto é chamado levushei dechiya [vestimentas puras], e é de Nogah de Chashmal de Beriá ou de Yetzirá, etc.).
E são incluídas as dez forças dela: ratzon (vontade), ta’anug (deleite), sechel (intelecto) e middot (atributos), etc.

Pois certamente a luz da percepção que a nefesh ha’elohit apreende, e o deleite que se deleita do esplendor divino mesmo, que está no Gan Éden, vem por meio da revelação do aspecto da luz divina dessa neshamá como ela é, sem ocultamento e sem restrição.
Portanto, certamente isto é aspecto de divindade mesma, apenas que ilumina por meio de uma percepção divina.
E esta percepção divina é isenta de todo aspecto de yesh (ser, existência própria) em absoluto, senão está no aspecto do ayin (nada) divino.
E com tudo isso é chamada percepção, no caminho da percepção que a neshamá apreende aqui quando está revestida na percepção material da nefesh ha’tiv’it na divindade.
E também o deleite é um deleite divino, isento de todo aspecto de yesh, senão deleite espiritual divino mesmo.
E se assim, também o aspecto da hitpa’alut nesta percepção divina será chamada hitpa’alut divina, no aspecto de divindade mesma, e assim a hitpa’alut do deleite é hitpa’alut no deleite divino.

(E como é sabido a semelhança disto na diferença entre o deleite no material, como dinheiro e comida, e o deleite na honra, que é mais espiritual; por isso a pessoa despreza todos os seus deleites materiais em relação a isso.
E do mesmo modo, também o deleite na honra, que é material, é considerado como nada em relação ao deleite divino na percepção divina da neshamá no corpo.
E assim também este deleite material é considerado como nada em relação ao deleite da neshamá no Gan Éden.
Assim é a comparação na percepção da divindade, etc.).

E do mesmo modo, há dez forças na neshamá que desfruta do esplendor divino no Gan Éden: ratzon divino, sechel divino e middot divinas, etc., tudo no aspecto do ayin da divindade.
E por estarem encontradas a partir do ayin divino, como uma centelha da chama, e é “chelek Eloká” (parte de Deus) mesmo, por isso desfruta do esplendor, etc.
(E como é explicado em outro lugar, “Beyahida” etc., no aspecto da Yechidá nela, etc.).

E segundo este exemplo, será compreendido também na descida da neshamá divina de Beriá ou o Ruach de Yetzirá, etc., no revestimento da nefesh ha’tiv’it em um corpo material, que ainda não se cortou dela a força e a fonte da sua talha, chamado Tzelem (imagem espiritual), assim também Mazalá, como é sabido no assunto de “Ach be’tzelem” (Salmos 39:7).
E quem tem Ruach de Yetzirá, ilumina neste aspecto de Ruach que está no corpo a partir de sua raiz no aspecto de Ruach de Yetzirá como é no Gan Éden de Yetzirá, etc., e do mesmo modo na neshamá de Beriá ou nefesh de Assiá.

E conforme isto, entende-se, ao menos, que há na nefesh ha’elohit revestida na nefesh ha’tiv’it também um reflexo e este exemplo de hitpa’alut divina no ratzon, sechel e middot que nela há, que é também aspecto de divindade mesma, já que é chamada “chelek Eloká”, etc., mesmo que tenha descido muito, muito abaixo.

E o assunto é que a luz divina nela não é tão oculta e escondida como está oculta e escondida na nefesh deNogah.
Pois o aspecto de Nogah em essência é um aspecto de levush (vestimenta) separado, como o aspecto da iluminação da luz que brilha através de um masach (tela); e do mesmo modo, ainda que ilumine luz também, não é a luz essencial, senão uma luz adquirida, pois recebeu da luz essencial através da masach.
E assim é acima, o aspecto do levush de Chashmal de Nogah, como é sabido.

Mas não assim a neshamá divina em sua raiz, que recebe da luz divina essencial sem ocultamento e vestimenta.
(E o que cada neshamá tem de levush de Nogah no Gan Éden é apenas para que não seja anulada em sua existência, etc.).
E também quando se reveste no levush da nefesh ha’tiv’it, não tem ocultamento nem encobrimento por causa disso.
E por isso, não há nela mudança no modo da essência da hitpa’alut de suas forças, que todas são hitpa’alut divina mesma, à qual não tem a hitpa’alut das forças da nefesh ha’tiv’it qualquer comparação absolutamente, como será explicado.
Pois está essencialmente separada da nefesh ha’tiv’it, apenas se apreende nela no caminho de apreensão e de revestimento somente, como é sabido.

Capítulo 20

E a partir de agora é preciso entender a diferença entre a hitpa’alut (comoção/empolgação espiritual) da nefesh ha’elohit (alma divina) nesta mesma percepção que a nefesh ha’tiv’it (alma natural) apreende, etc.

Pois foi explicado acima que na percepção do intelecto da nefesh ha’tiv’it em um assunto divino que ouve de alguma pessoa, ainda não se comove em nada ao ouvir, etc., e depois, através do esforço, se comove a partir do resumo, etc.
Eis que, já que passou e transcorreram um ou dois instantes em que não se comoveu do corpo da própria percepção — disso se mostra que o aspecto da divindade nesta percepção está muito oculto nela.
Portanto, ela tem apenas aquilo que o intelecto ouve por si mesmo, e isso não lhe pertence, por causa do afastamento da luz divina dessa percepção dele, até que, através do esforço, apenas ilumine a ponta do seu limite, que é o resumo e a essência condensada dela, em que se comove no reconhecimento, como mencionado acima.
(E também isso, no afastamento da luz essencial, já que a hitpa’alut veio na linguagem de “assim” (bekhen), como mencionado acima).

E mesmo quando se comove do corpo da própria percepção no pensamento — chamado machshavá tová (bom pensamento), como mencionado acima — (até o aspecto da própria intenção, chamado dechilu u’rechimu sechelim [temor e amor intelectuais] na nefesh ha’tiv’it, como mencionado acima, que é hitpa’alut a partir da essência, e não na linguagem de “assim”, pois já teria passado a percepção sem comoção, como mencionado acima; mas imediatamente ao apreender uma percepção por si mesma, se comove, e a hitpa’alut não está separada absolutamente da essência do apreendido, etc.), isso mostra que a divindade não está tão oculta nesta percepção.

Todavia, tudo é no aspecto de divindade oculta no levush deNogah (vestimenta de Nogah), e especialmente na percepção de Biná (entendimento) desta nefesh de Nogah, etc., a qual não tem qualquer comparação com o aspecto da luz divina essencial que ilumina na Biná e percepção da nefesh ha’elohit revestida nesta mesma percepção que a nefesh ha’tiv’it apreende, em que há um reflexo daquela luz divina essencial da percepção de Biná da nefesh ha’elohit quando desfruta do esplendor da luz divina essencial no Gan Éden, como mencionado acima, sem masach (tela) nem ocultamento algum.

E por isso, também a hitpa’alut nesta percepção da nefesh ha’elohit é chamada de hitpa’alut da própria divindade, e não como a hitpa’alut de algo separado da divindade, como é a hitpa’alut da nefesh ha’tiv’it em sua percepção.

E esta é a principal diferença entre elas nesta mesma percepção que a nefesh ha’tiv’it apreende.

Capítulo 21

E primeiro é necessário introduzir aquilo que vemos, algo maravilhoso e extraordinário, na diferença do modo da hitpa’alut (comoção/empolgação espiritual) da nefesh ha’elohit (alma divina) na percepção da nefesh ha’tiv’it (alma natural), em um mesmo assunto divino que ouvem duas pessoas.

Este tem o sentido da audição na hitpa’alut no próprio objeto apreendido (belashon idish [em iídiche] chamado der hert, ou seja, “ele sente”), por causa da explicação da percepção em si mesma, isto é, por causa da abundância da explicação de coisas bem temperadas em bom gosto e intelecto humano, até que seja apreendido e recebido bem; e a sua principal comoção é apenas pela explicação.
E este outro se comove imediatamente pelo aspecto da divindade nesta percepção.
E nisso ele tem um sentido maior, no qual está incluída toda a multiplicidade da explicação, até que consiga, quase por si mesmo, direcionar a maior parte da explicação.
Pois ele se comove imediatamente pela essência divina dela, e, consequentemente, torna-se para ele a maior parte da explicação sem medida, em comprimento, largura e profundidade.

(E há nisso um grau ainda mais baixo, e é que ele não se comove senão pelo aspecto da espiritualidade da percepção, e isto é apenas uma imaginação ilusória do poder da imaginação na Biná [entendimento] em sua alma, que está muito abaixo da percepção, da qual vem a causa do poder ilusório enganador, por causa da confusão dos vasos do cérebro ou do predomínio da ebulição dos sangues, até que engana a si mesmo em excesso e coloca luz como escuridão e escuridão como luz, e inverte e confunde e mistura mentira e verdade juntos.
E este é o erro que se encontra mais entre nossos companheiros, que confundem isto com a hitpa’alut divina que há na explicação da percepção que está acima do corpo da percepção, como mencionado acima, cujo valor está distante entre eles de um extremo ao outro, como luz e escuridão, etc. E basta ao entendido).

E o sinal para isso é que, em todos os detalhes da explicação, ele distingue com distinção maior a essência e o mais interior na profundidade do apreendido, etc., que emerge de dentro de todos os detalhes da explicação em parábola e semelhantes; e disso, justamente, vem ao aspecto de comprimento, largura e profundidade, e entender uma coisa a partir de outra com uma expansão imensa, multiplicada várias vezes em relação às palavras de explicação que ouviu ou viu escritas.

Diferente é aquele que tem apenas o que foi apreendido para ele em percepção intelectual daquilo que ouviu e viu — não lhe restam senão as coisas como elas são, e mesmo estas como matéria bruta sem forma, e vai se encurtando e se afastando dele com o tempo, até que se encurte completamente e não lhe reste senão o aspecto do geral sem a essência, mas sim no aspecto da exterioridade apenas, etc.
E mesmo que se lembre do geral por sua repetição e costume nele todos os dias, ainda assim não há nisso vitalidade de luz divina para iluminar nesta percepção em sua alma de verdade, mas apenas como aquele que lembra coisas de assuntos mundanos (mili de’alma), já que não sentiu em sua alma da iluminação do aspecto da luz divina nesta percepção.

(E além disso, há ainda outro erro entre nossos companheiros: há os que se comovem imediatamente pelo aspecto da essência na explicação apreendida, e lhes parece que isso é pelo aspecto da divindade na percepção, e por isso não conseguem suportar a explicação absolutamente e não a desejam de forma alguma.
E com isso muitos caem no erro ilusório, que na verdade isto não é da percepção divina em absoluto, mas sim do aspecto natural que está enraizado nas nefashot (almas) de Israel, a nefesh ha’elohit (alma divina), de se comoverem da divindade sem gosto nem conhecimento em absoluto.
E isto é o aspecto de katnut (pequenez) da nefesh, o último grau do Naran Chai (sigla para Nefesh, Ruach, Neshamah, Chayah, Yechidah) da nefesh ha’elohit, como será explicado. (Belashon idish [em iídiche]: Frumkeit Tivi’it, ou seja, “piedade natural”).

Mas o sentido da percepção da divindade na percepção mencionada acima é o sentido da chasidut (piedade/chassidismo) daquela percepção, que é o aspecto da matéria prima nela (belashon idish: Eshentziye – essência, extrato), como a bebida que se faz da extração de muitas partes (Eshentziye) para se misturar nela a maior parte das bebidas, como é sabido.
E isto é chamado chomer ha’pashut (matéria simples) e também chomer ha’hiyuli (matéria primordial), como é sabido. E basta ao entendido).

Capítulo 22

E a partir de agora será entendido, de modo análogo, o afastamento de valor entre a hitpa’alut (comoção/empolgação) do hesber (explicação) em relação à hitpa’alut da divindade no hesber mencionado acima: muito maior ainda é o afastamento de valor entre toda a hitpa’alut da divindade na percepção da nefesh ha’tiv’it (alma natural) em relação à hitpa’alut da divindade na percepção da nefesh ha’elohit (alma divina).

Porém, a hitpa’alut da percepção da nefesh ha’tiv’it é apenas como um levush (vestimenta) para a hitpa’alut da percepção da nefesh ha’elohit, que a oculta e esconde; e assim também o ratzon (vontade) e o ta’anug (deleite) da nefesh ha’tiv’it são vestimenta para o ratzon e o ta’anug da nefesh ha’elohit.
(E a semelhança disto é a diferença entre o deleite e a percepção materiais em relação ao deleite e à percepção espiritual no Gan Éden, como mencionado acima).

E encontra-se que, ainda que certamente em essência de valor, até mesmo o aspecto mais inferior da nefesh ha’elohit — que é como o aspecto mais pequeno de todos, e a hitpa’alut essencial da nefesh ha’elohit no aspecto de Assiyah (Mundo da Ação), de se atrair após a divindade sem razão, como na saída do Egito, sobre a qual está escrito: “Tua ida após Mim no deserto...” (Jeremias 2:2), como uma criança que segue após seu pai, etc. — ainda assim, isto é pelo aspecto da essência das neshamot Yisrael (almas de Israel), como é sabido, que é muito maior até mesmo do que o mais elevado da nefesh ha’tiv’it, que é o ratzon ha’pashut (vontade simples) que está acima da razão, chamado kavanah (intenção), como mencionado acima.

E, de todo modo, os dez poderes (eser kochot) da nefesh ha’elohit estão revestidos nos dez poderes da nefesh ha’tiv’it — deleite em deleite, vontade em vontade, intelecto em intelecto, atributos em atributos, etc., como é sabido.
E conforme isso, nesta mesma percepção da nefesh ha’tiv’it, que é sua Biná (entendimento), está revestida a Biná da nefesh ha’elohit.
E, se assim, também na hitpa’alut da divindade que há na Biná e na percepção da nefesh ha’tiv’it, está revestida a hitpa’alut da divindade que há na Biná e na percepção da nefesh ha’elohit, até sua raiz na percepção e na Biná dela, quando desfruta do esplendor no Gan Éden, como mencionado acima, no assunto de “Ach be’tzelem yithalech ish” (Salmos 39:7), que se refere à neshamá que está revestida no corpo, como é sabido.

E a diferença entre elas já foi explicada acima: é como a diferença entre a luz essencial e a luz do masach (tela), e como a hitpa’alut do aspecto hiyuli (matéria-prima, potencial) que está oculto e escondido dentro da hitpa’alut do hesber (explicação), como mencionado acima. E basta ao entendido.

Capítulo 23


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